sexta-feira, janeiro 14, 2011

Um conto mal contado


Aquele lugar, que tanto inspirou meus sonhos. Aquela praia calma, tranquila e simplesmente linda, que visitei por tantos anos, inocentemente, até hoje.
   Nunca imaginei que pudesse ser assim. Nunca sequer cogitei que eu te encontraria aqui, e que aconteceria desse modo: perfeitamente.
   Chegamos à praia no entardecer. Estávamos de mãos dadas, e de vez em quando ele me fazia parar de andar, pra poder me beijar uma vez ou duas. Sim, eu estava nas nuvens.
   De repente, quando olhei à minha frente, vi uma cama linda, daquelas que se vê nos filmes medievais. Aquelas que tem nos quartos dos reis, que vemos na TV. Uma cama perfeita. Estrategicamente colocada numa pequena faixa verde, antes que a faixa de areia começasse. Eu ouvia o barulho das ondas, quebrando a menos de dez metros do local onde eu estava, ou seja, a magia do oceano inundava meus sentidos. E nos meus ouvidos apenas ecoava o som das ondas e da voz do homem mais lindo que eu já vira dizendo 'eu te amo'.
   Ao redor da cama, haviam velas pequenas, parecidas com as que usamos pra decorar nossos quartos, ou como as que vemos em salas de ciganas e variáveis. Estavam espalhadas de modo extremamente romântico, fazendo com que o anoitecer ficasse iluminado com uma luz baixa e básica das velas.
   Paramos quando chegamos  próximo da cama.
   Eu não conseguia parar de olhar nos olhos daquele menino, o meu menino, dono dos meus sentimentos há tantos anos. O que fazia meu coração tremer, e palpitar a cada vez que nossos olhos se encontravam. Sim, aquele que era meu namorado desde que éramos criancinhas e nem sabíamos o que era um namoro. Nossos corações sempre pertenceram um ao outro.
   Eu sabia que aquele seria o momento crucial do nosso namoro. O momento em que nossos corpos também se pertenceriam, e não apenas nossos corações.
   Mas eu não podia. Eu queria, eu sempre quis. Mas eu não podia. Pensava em outra pessoa há uns meses atrás, enquanto tivemos um rompimento, então naquele momento senti que eu não poderia me entregar. Senti que não seria certo, pertencer ao meu namorado de infância, sendo que havia beijado outra boca há pouco tempo. Foi um momento de fraqueza, mas eu não podia. Não seria justo e nem sincero da minha parte. Então eu não podia.
   Me desvencilhei de seus braços.
   Ele me olhava triste, sem saber o que estava acontecendo. Me senti destruída, abandonando o menino que eu mais amava, e mais queria ter do meu lado.
   Criei forças e pronunciei fracamente:
   - Desculpe, não posso.
   E corri. Corri o máximo que pude. Tropecei várias vezes, mas procurei não olhar pra trás, eu não aguentaria. Apenas corri, e fugi daquele lugar, daquela cena.
   Me senti covarde, mas sei que fiz a coisa certa.
Pauta pro Bloínques. 51ª Edição visual. 

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